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Cuiabá , MT - -


Armindo, um torcedor fanático

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   Data: 06/12/2015 - Por: Nelson Severino

Como pessoas civilizadas que são, Armindo Pipoqueiro e Nhá Barbina, ele apaixonado pelo Dom Bosco e ela torcedora faná­tica do Mixto, até que se dão bem. Mas quando se trata de torcer pelos seus clubes do coração, partem até para a ignorância...

– Uma vez ela queria até me rufar – lembra-se Armindo Pipoqueiro, que há 25 anos trabalhava como zelador do Verdão e aproveita eventos, princi­palmente esportivos, para vender pipoca, daí o seu apelido, que o acompanha já há mais de duas décadas.

Foi no Campeonato Mato-grossense de Futebol de 1976. Armindo Pipoqueiro e Nhá Barbina encontraram-se no portão de acesso às arquiban­cadas descobertas do Verdão antes do jogo entre Mixto e Dom Bosco, que terminou empatado por 1x1.

– Cuide desse seu pano preto!... – gritou Armindo Pipoqueiro para Nhá Barbina, com um jeito bem irônico e provocativo.

Para Armindo Pipoqueiro, foi uma simples brincadeira. Ele não con­tava, porém, que a mixtense ia se sentir tão ofendida com o fato de a bandeira de seu clube ter sido chamada de “pano preto”. Nhá Barbina perdeu a esportiva e partiu pra cima de Armindo Pipoqueiro, tentando rufar o pau do pavilhão alvinegro no desaforado torcedor dombosquino...

Na semana de outro jogo clássico entre Mixto e Dom Bosco, ao ser entrevistado por uma emissora de televisão da cidade, Armindo Pipoqueiro mandou um recado para Nhá Barbina: o azulão ia estraçalhar o alvinegro...

A resposta de Nhá Barbina à provocação foi a ameaça de jogar uma garrafa de molho de pimenta bem ardida em Armindo Pipoqueiro no dia do jogo. A televisão aproveitou a dica e fez uma montagem, que exibiu a semana inteira no programa de esportes, de alguém chutando uma garrafa de pimenta num torcedor dombosquino...

– Ah, aquela vez eu fiquei mordido com a Nhá Barbina!... – reconhe­ce Armindo Pipoqueiro.

O fanatismo de Armindo Pipoqueiro pelo Dom Bosco já o levou a passar apuros em algumas cidades onde foi torcer pelo seu clube – Goiânia, Barra do Garças, Rondonópolis, Cáceres, entre outras.

Em Rondonópolis, Armindo Pipoqueiro foi assistir a um jogo entre União e Dom Bosco, mas quando ele chegou à geral do Estádio Luthero Lopes, que estava lotado, um grupo de torcedores do colorado se aproximou dele e deu a ordem: “Não agite essa bandeira aqui!...”

Para evitar uma confusão com Armindo Pipoqueiro, um grupo de amigos resolveu tirá-lo dali e comprar uma entrada para ele nas arquibancadas cobertas. Mas lá recebeu a mesma ordem, que Armindo Pipoqueiro conside­rou uma humilhação. Fazer o que, ele sozinho contra a aquele monte de povo.

Tempos depois, Armindo Pipoqueiro foi impedido de desfraldar sua bandeira no estádio de Cáceres por ocasião de um jogo do Dom Bosco com o Cacerense. Não adiantou ele argumentar que bandeira de time não ganha jogo: não pôde agitar a sua...

– Torcedor que vai para o estádio sem levar a bandeira de seu clube não é torcedor – afirma Armindo Pipoqueiro.

 

Nos eventos esportivos que reúnem maior público no Dutrinha, no Ginásio Poliesportivo Aecim Tocantins, em cujas imediações mora, lá está Ar­mindo Pipoqueiro rebentando pipoca e brincando com os torcedores.

Mas se é jogo de futebol e tem Dom Bosco na parada, ele rebenta uma grande quantidade de pipoca, deixa seu irmão tomando conta do carri­nho, pega a sua bandeira e vai torcer pelo seu clube.

Faz muitos anos, Armindo Pipoqueiro decidiu passar as festas de fim de ano vestido com uma camisa nova do seu azulão. Entrou numa loja de materiais esportivos do centro da cidade e fez o pedido.

– Não tem – respondeu o vendedor.

– Como não tem? – perguntou Armindo Pipoqueiro.

– Porque ninguém produz material esportivo dos clubes daqui para vender – justificou o vendedor.

– Quer dizer, então, que vocês vêm aqui só para usar Cuiabá para ganhar dinheiro? E a nossa cultura, como é que fica? Futebol também faz parte da nossa história – vociferou Armindo Pipoqueiro, que saiu da loja pisando duro, revoltado com o desrespeito à cultura de Mato Grosso...

 

(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos  Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino)..